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Tarifa de 50% dos EUA entra em vigor: quais os impactos no setor moveleiro?

Móveis de madeira não foram contemplados na lista de exceções divulgada pela Casa Branca; ABIMÓVEL reúne equipe técnica para analisar decreto, traçar estratégias e colaborar na defesa do setor 

A partir de 07 de agosto de 2025, os Estados Unidos passam a aplicar uma tarifa de 50% sobre uma série de produtos brasileiros. A decisão foi oficializada no dia 30 de julho, por meio de decreto publicado pela Casa Branca, que também estabeleceu um período de exceção até 5 de outubro para bens em trânsito antes da entrada em vigor da tarifa.

Apesar de uma lista com quase 700 exceções, os móveis de madeira — principal item da pauta exportadora da indústria moveleira nacional, representando 80% do total embarcado pelo setornão foram incluídos nas isenções e passam a ser taxados conforme as novas regras tarifárias.

A medida representa um aumento expressivo no custo final para importadores e consumidores norte-americanos, o que inviabiliza o comércio entre os dois países ao comprometer a competitividade dos produtos brasileiros frente a fornecedores de países menos afetados ou que conseguiram negociar exceções. 

Diferentemente do que o setor vinha defendendo — relembre aqui —, a prorrogação no prazo de vigência da nova medida foi de apenas cinco dias (passando do dia 1º para o dia 07 de agosto). Produtos que já estejam embarcados e cheguem aos EUA até 05 de outubro de 2025, contudo, continuarão sujeitos à tarifa anterior de 10%. Após este prazo, todos os itens não contemplados pelas exceções serão tarifados em 50%.

Apenas itens específicos da pauta moveleira, como modelos determinados de mobiliário de metal (que já vinham sendo taxados em 50% e não serão sobretaxados) e móveis plásticos reforçados, foram contemplados. 

No primeiro semestre de 2025, os Estados Unidos foram responsáveis por 28,0% das exportações brasileiras de móveis e colchões prontos. Esse percentual sobe para 38,4% ao incluir os fornecedores da cadeia, como componentes, tintas, vernizes, ferragens, máquinas e outros insumos. Os dados evidenciam a centralidade estratégica do mercado norte-americano para o setor e, por consequência, o impacto da nova tarifa sobre a estabilidade do setor como um todo.

“Recebemos a confirmação da tarifa com grande apreensão. Ela compromete uma relação comercial historicamente pautada pelo diálogo, pela parceria e pela geração de valor mútuo. A ABIMÓVEL está mobilizada e em sinergia com o setor para avaliar com precisão o momento. Nosso corpo técnico e jurídico já conduz uma análise aprofundada do decreto, que servirá de base para um posicionamento sólido e para a construção de novas propostas de mitigação. Ressaltando que estamos continuamente atuando de forma coordenada com o poder público, levando ao governo uma série de medidas com potencial de minimizar os efeitos da decisão americana sobre a cadeia moveleira e a indústria nacional”, ressalta Irineu Munhoz, presidente da entidade. 

Mesmo antes da oficialização, os efeitos da medida já eram percebidos. Empresas com operações relevantes nos EUA relataram cancelamentos de contratos, suspensão de embarques, contêineres prontos paralisados, interrupções de pedidos futuros e, em alguns casos, férias coletivas para readequação da produção

O impacto é amplo e atinge diretamente os principais polos moveleiros do país. Só os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná (na região Sul) junto a São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo (no Sudeste) são responsáveis por quase 99% das exportações brasileiras de móveis. Outros estados como a Bahia, Pernambuco e Paraíba, no Nordeste, bem como o Pará, no Norte, também serão afetados.

A influência da medida varia conforme o grau de dependência de cada empresa e polo moveleiro em relação ao mercado americano, mas há um clima geral de insegurança — não apenas pelas perdas diretas, mas também pela imprevisibilidade dos próximos meses. Com isso, estima-se que a nova medida possa resultar na perda de 9 mil postos de trabalho ao longo da cadeia moveleira em todo o Brasil.

Entre os itens beneficiados pela lista de exceções, estão:

A produção brasileira de móveis para exportação aos EUA é, em muitos casos, altamente personalizada — com dimensões, certificações, materiais e design voltados às exigências e preferências do consumidor norte-americano. Isso dificulta o redirecionamento imediato ao mercado interno ou a outros mercados internacionais — processo que também exigiria tempo, estrutura, planejamento, adaptação regulatória, readequação logística e reformulação comercial. O resultado já se reflete no acúmulo de estoques e na redução da margem de manobra das empresas, especialmente as de médio porte.

Outro ponto de atenção está na possível reação do Brasil às importações. Muitos dos insumos e acabamentos utilizados pela indústria moveleira vêm dos Estados Unidos. Caso haja medidas de reciprocidade, podem ocorrer aumentos de custo, redução na variedade de materiais disponíveis ou atrasos na cadeia de fornecimento.

Dessa forma, ainda que a tarifa dos EUA não afete diretamente o consumidor brasileiro, seu efeito reverbera no mercado como um todo. Menores exportações tendem a diminuir o ritmo de inovação, a diversificação de portfólios, o número de empregos e renda no país, e a movimentação da cadeia produtiva como um todo, com reflexos na oferta, na dinâmica do consumo e na competitividade da indústria nacional.

Cronologia da escalada tarifária EUA x Brasil

A cadeia de madeira e móveis no Brasil reúne milhares de empresas e mais de 1,1 milhão de trabalhadores diretos e indiretos. O risco imposto pela nova tarifa é sistêmico: compromete a sobrevivência de negócios, empregos, comunidades e a economia nacional. O que está em jogo são postos de trabalho, renda, inovação e a competitividade do país.

É necessário encontrar um caminho técnico e diplomático que preserve os mercados e respeite os compromissos históricos entre Brasil e Estados Unidos — com previsibilidade, equilíbrio e confiança mútua.

“A indústria brasileira de móveis, sexta maior do mundo, demonstra capacidade contínua de adaptação e inovação. No entanto, o atual cenário requer tempo, tática e uma resposta equilibrada, que preserve uma relação comercial sólida e historicamente construída, sem penalizar um setor estratégico para a economia nacional – responsável por investimentos relevantes, geração de valor e impacto em importantes polos produtivos em todo o país”, afirma Cândida Cervieri, diretora-executiva da ABIMÓVEL. Ela complementa: “A imposição da tarifa afeta não apenas contratos comerciais, mas também compromete  à indústria e a estabilidade de milhares de famílias que dependem, direta ou indiretamente, dessa cadeia produtiva”.

A direção da ABIMÓVEL está reunida e dedicada à análise detalhada e criteriosa do documento emitido pelo governo americano. A entidade também já atua de forma articulada com o Governo Federal, empresas do setor, compradores americanos e entidades internacionais, em busca de alternativas e soluções para este cenário adverso.

 

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Assessoria de Imprensa: press@abimovel.com

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