
Em três meses, 80% dos recursos liberados foram destinados a empresas de comércio e serviços, enquanto o setor industrial continua enfrentando barreiras no financiamento de capital de giro e investimento
Em apenas três meses de operação, o Fundo Garantidor de Investimentos (FGI) do BNDES em parceria com o Sebrae já movimentou mais de R$ 1 bilhão em crédito destinado a micro e pequenas empresas brasileiras.
Foram registradas 5,3 mil operações garantidas, com tíquete médio de R$ 203 mil por empresa, demonstrando o forte interesse do mercado por linhas de financiamento voltadas ao desenvolvimento produtivo.
Os dados, no entanto, revelam uma assimetria preocupante: 80% dos recursos liberados foram destinados a empresas dos setores de comércio e serviços, enquanto a indústria, que demanda prazos mais longos e crédito de maior complexidade, recebeu uma fatia significativamente menor.
Descompasso entre oferta e demanda
Especialistas apontam que esse descompasso decorre da estrutura tradicional do sistema bancário brasileiro, que tende a privilegiar operações com retorno mais rápido e menor risco.
No caso da indústria, cuja dinâmica exige investimentos prévios em insumos, tecnologia, estoques e maquinário, as instituições financeiras ainda demonstram pouca familiaridade com o ritmo e as especificidades do setor.
“O sistema financeiro ainda não compreende completamente o ciclo produtivo industrial, que é mais longo e exige uma visão diferente de risco. Isso faz com que muitas fábricas encontrem portas fechadas na hora de buscar crédito”, explica João de Oliveira, diretor comercial de originação da Central de Crédito.
Plataformas especializadas tentam preencher a lacuna
Diante desse cenário, surgem novas iniciativas voltadas exclusivamente à indústria, como a própria Central de Crédito. A solução conecta fábricas e empresas do setor produtivo a mais de 30 bancos, fintechs e instituições financeiras, que possuem experiência em operações estruturadas para a indústria.
De acordo com a empresa, o modelo busca simplificar o acesso a financiamentos e oferecer alternativas mais aderentes ao perfil produtivo, com taxas a partir de 1,4% ao mês, opções com ou sem garantias tradicionais, atendimento consultivo e análise estratégica do perfil de cada fábrica.
“O objetivo é aproximar a indústria das instituições que realmente entendem suas necessidades, possibilitando que pequenas e médias fábricas tenham acesso ao crédito certo, sem travas burocráticas e com mais previsibilidade”, complementa Oliveira.
O desafio de financiar a base produtiva
O avanço do FGI-BNDES/Sebrae e o surgimento de novas soluções indicam que há espaço para uma transformação no modelo de financiamento industrial, combinando garantias públicas, tecnologia e inteligência financeira.
Mas o desafio permanece: garantir que o crédito alcance a base produtiva e estimule o investimento em tecnologia, modernização e competitividade no setor industrial brasileiro.