O custo médio do transporte de um contêiner no mercado marítimo global permaneceu próximo a US$ 10 mil em vários momentos nos últimos meses, valor sete vezes mais elevado que o verificado antes da pandemia.
A crise sem precedentes no mercado de navegação se iniciou há mais de dois anos, com as interrupções nas atividades produtivas na China e, posteriormente, em outros países, que se refletiram na suspensão generalizada de serviços de transportes e das encomendas programadas. A progressiva retomada das atividades, ainda em 2020, alavancou a demanda por mercadorias e insumos produtivos, muitos destes represados em portos e armazéns chineses. Desde então, a capacidade de transporte ofertada nos portos e embarcações a nível global tem sido insuficiente para equilibrar o mercado, resultando nos maiores valores de fretes já registrados na história.
Situação do Mercado de Navegação Brasileiro
Seguindo uma tendência que se repetiu com outros países, o comércio exterior brasileiro sentiu os primeiros efeitos da crise logística nos níveis de frete de importações com origem na China. No fim do primeiro semestre de 2020, momento inicial da pandemia, os fretes médios no mercado spot caíram a US$ 400 por contêiner de 40 pés.
“A retomada das atividades produtivas, no Brasil e no mundo, e o consequente desbalanceamento entre a oferta e a demanda global por serviços de transporte reverteu a tendência de queda e elevou os fretes a níveis jamais vistos no mercado de navegação. Como consequência, o custo médio de importação de um contêiner de 40 pés da China para o Brasil alcançou US$ 9 mil no início de 2021”, destaca o especialista em Infraestrutura da CNI Matheus de Castro.
“Posteriormente, ainda em 2021, a demanda por embarcações nas rotas prioritárias e a piora nos níveis de congestionamento nos grandes portos globais pressionou ainda mais os níveis de frete, que alcançaram US$ 13 mil no fim do ano”, acrescenta Castro.
O levantamento, realizado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), mostra que os primeiros meses de 2022 indicam uma retração no custo médio de importação com origem na Ásia para o Brasil. A queda revela uma acomodação entre a demanda e a oferta de capacidade de transporte na rota. No entanto, os efeitos do lockdown em portos chineses, especialmente o de Xangai, e a piora nas condições do mercado de navegação global reverteram o processo de redução dos valores de frete, que, neste mês de julho, já ultrapassa o patamar de US$ 10 mil por contêiner de 40 pés.
Os valores de frete nas principais rotas de exportação partindo do Brasil também estão altos. De acordo com os dados, o custo de transporte de um contêiner de 40 pés do Brasil para portos dos Estados Unidos está próximo a US$ 10 mil, valor oito vezes superior ao observado antes da pandemia. Desde novembro do ano passado que os fretes para os EUA apresen tam tendência de estabilização em patamares elevados, o que revela os efeitos dos congestionamentos nos portos norte-americanos.
No caso da exportação para o Norte da Europa e Ásia se observa a mesma tendência de estabilização em níveis também mais elevados. “Ainda vão ser necessários vários meses até que os níveis de congestionamentos, atrasos e demanda por transporte se normalizem. O risco de uma recessão global pode atenuar a demanda pelo transporte marítimo. No entanto, novas rupturas na logística global, em função da Guerra na Ucrânia, surtos de Covid-19 na China ou qualquer outra eventualidade vão estender a crise logística, já que não há capacidade ociosa no mercado para acomodar pressões adicionais na oferta de serviços de transporte”, pontua o especialista da CNI.
A CNI lançou neste mês de julho um painel virtual que acompanhará mensalmente a evolução dos valores do frete, que pode ser acessado aqui.