Na manhã desta segunda-feira (23), o portal eMóbile entrevistou a presidente da Abimóvel, Maristela Cusin Longhi, para entender como a entidade está analisando os novos desafios impostos, como acredita que o setor moveleiro será afetado e o que deve ser feito pelo poder público para lidar com os desafios econômicos que ainda estão por vir.
eMóbile: que setores da cadeia moveleira serão mais afetados e que medidas estão sendo tomadas, tanto pelo governo quanto pelas entidades representativas, para minimizar esses impactos?
Olha, é difícil falar de um setor específico, até porque essa pandemia realmente causa problemas a todos e à cadeia produtiva moveleira. Entre as ações que nós estamos trabalhando com o governo, existem questões ligadas ao fluxo de caixa das empresas. Nesse ponto, já existe a questão da prorrogação dos financiamentos, que o governo já sinalizou de forma positiva.
Ainda há a questão da prorrogação dos contratos de câmbio dos Accs e Pps, dos impostos federais, a isenção de parte INSS relativo ao INSS patronal. Enfim, uma série de questões a nível de fluxo de caixa para que as empresas realmente possam enfrentar essa crise assim como em relação a questão de trabalho.
O Ministério do Trabalho já tomou algumas questões relativas à questão de férias sem o pagamento dos 33%, a questão dos prazos para dar férias coletivas ou férias individuais. Enfim, uma série de questões, mas que ainda são poucas. Nós temos aí a questão dos próprios impostos federais que a prorrogação tem que acontecer. Não tem como nós pagarmos realmente tudo isso diante dessa crise sem trabalhar.
eMóbile: qual a análise da entidade para o setor moveleiro diante da atual situação de pandemia do Covid-19?
Para todos nós, é um momento bastante triste. Além da possibilidade de perdas de vidas, essa situação vai trazer grandes problemas econômicos. O setor moveleiro vinha enfrentando outras crises. Neste ano, existia a previsão de um crescimento. Agora, vemos que teremos mais um ano perdido.
Nós estamos trabalhando, desde a semana passada, junto ao Ministério da Economia, levando os pleitos dos empresários para serem analisados pelo Governo, com o objetivo de minimizar os prejuízos da indústria.
eMóbile: como está a situação dos polos moveleiros? Atualmente, eles estão todos parados ou há previsão de interromperem as atividades?
Alguns polos estão trabalhando e outros estão fechados, devido aos decretos. A própria questão do trabalho remoto contribui para que alguns setores das empresas possam seguir trabalhando. Neste momento, a maioria dos polos tem liberdade para trabalhar em suas indústrias. No entanto, o mercado já vem sentindo o reflexo de tudo isso, com o cancelamento de pedidos. Sabemos que vem pela frente momentos difíceis, de bastante retração.
eMóbile: diante desse quadro, a entidade já consegue traçar uma estimativa do quanto a indústria moveleira deve ter de prejuízos?
Neste momento, a gente não tem como calcular, pois as coisas estão mudando a cada semana. Tudo isso vai depender de quanto tempo essa crise durará e das medidas que o Governo Federal está fazendo. Já tivemos muitas medidas positivas e, provavelmente. Na próxima semana o Governo deve emitir mais medidas. A previsão é que a economia irá entrar em um caos, caso essa crise se estenda por muito tempo, isso a nível mundial.
É preciso mudar o posicionamento frente à crise. Se a doença atinge com maior impacto as pessoas com mais de 65 anos e os doentes crônicos, esses indivíduos tenham que ficar em isolamento, mas a economia precisa retomar aos poucos, de modo que a gente minimize os prejuízos que virão em seguida.
eMóbile: quais as orientações para os empresários moveleiros neste momento delicado? Que ações estratégicas as empresas podem adotar visando redução do impacto da crise do Covid-19?
Todos nós temos que repensar nossas empresas, de acordo com as possibilidades de fluxo de caixa. As prioridades são as vidas, mas se todas as pessoas que puderem continuar trabalhando, seguindo as novas orientações do Governo estabelece em relação à legislação trabalhista.
O principal é que a gente trabalhe com responsabilidade. Temos que pensar na retomada da economia para evitarmos o caos econômico, pois o caos econômico não permite a proteção da vida de forma adequada.
eMóbile: qual a avaliação da Abimóvel das ações tomadas pelo governo para enfrentamento desta crise? Que medidas avaliam como positivas e quais avaliam como negativa? Por quê?
Quero ponderar que a Abimóvel tem trabalhado em conjunto com o Ministério da Economia, Apex e junto com os empresários. Eu acho que o Governo Federal tem enfrentado essa questão de forma coerente, pois mais medidas seriam tomadas apenas em um estado de calamidade pública.
As medidas tomadas em relação às legislações trabalhistas e fluxo de caixa atendem parte dos nossos pedidos, mas ainda estão aquém de tudo o que é necessário. Os contratos de exportação, por exemplo, ainda precisam ser trabalhados — assim como os prazos de impostos estaduais e municipais.
eMóbile: e como fica a situação para as empresas exportadoras? Elas devem sofrer menos com a crise? Que potenciais mercados são estratégicos neste momento?
Neste momento, as exportações também estão sentido essa situação, devido ao fechamento de fronteiras. Isso deve se tornar mais claro nas próximas semanas. Os contratos de exportações precisam ser revisados. Quanto aos mercados, é necessário traçar estratégias em relação a cada país. Além disso, sempre existe a possibilidade de buscar novos mercados que não foram tão afetados neste momento.