Em um encontro marcado pelo diálogo e pela troca de informações e experiências, representantes de 19 sindicatos moveleiros de diferentes regiões do Brasil reuniram-se a convite da ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário) em Curitiba (PR), no último dia 30 de setembro de 2024. O evento ocorreu na véspera da abertura do 11º Congresso Nacional Moveleiro, organizado pela entidade nacional moveleira em parceria com a FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) na capital paranaense.
Em meio à pluralidade de sotaques, culturas, desafios e oportunidades, o encontro proporcionou um retrato abrangente de uma indústria que, com suas particularidades regionais, busca unificar-se em torno de um objetivo comum: fortalecer a cadeia produtiva de móveis e a indústria nacional, tornando as empresas brasileiras mais competitivas local e internacionalmente.
A indústria de móveis brasileira
Há mais de 45 anos, a ABIMÓVEL atua na representação e no fortalecimento do setor de móveis no Brasil. Setor, este, de relevância econômica e social, composto por mais de 21,7 mil empresas, empregando 270,6 mil trabalhadores diretos e outros 1,1 milhão de forma indireta. Esses números colaboram para posicionar o Brasil como o maior produtor de móveis da América Latina e o sexto maior do mundo.
No mercado externo, a indústria brasileira do mobiliário ocupa a 26ª posição entre os maiores exportadores, com os produtos nacionais chegando a cerca de 180 países e seu posicionamento internacional crescendo a níveis superiores ao desempenho médio global: +3,2% no último ano, frente a uma retração de 3,73% na média mundial.
Apesar dos avanços, desafios como a carga tributária elevada, normas por vezes desatualizadas e a falta de políticas públicas mais direcionadas ao setor ainda podem limitar o desenvolvimento das empresas.
“O setor de móveis brasileiro tem uma força extraordinária. Nossa capacidade de produção, bem como recursos materiais, criatividade, gestão sustentável e o talento das nossas indústrias e designers são reconhecidos internacionalmente. Por isso defendemos uma agenda estratégica de incentivos públicos para que possamos investir ainda mais em tecnologia, inovação, design e mão de obra sem onerar o consumidor final. Atendendo com amplitude o mercado local e também ativando todo nosso potencial exportador”, ressalta Irineu Munhoz, presidente da ABIMÓVEL.
Integração e propostas de Norte a Sul
Nesse cenário, o encontro em Curitiba destacou as potencialidades e também as lacunas que precisam ser preenchidas para que a indústria moveleira brasileira continue a se desenvolver — ocupando seu espaço sempre com qualidade, sustentabilidade e design integrado — num momento em que a concorrência internacional levanta um sinal de alerta também no mercado interno.
A diretora-executiva da ABIMÓVEL, Cândida Cervieri, pontuou a relevância da ocasião como um momento de convergência no setor: “Esse encontro promovido anualmente pela ABIMÓVEL representou uma oportunidade estratégica para ouvir e construir propostas que beneficiem o setor moveleiro nacional, alinhando interesses e unindo esforços de norte a sul do país, dos pequenos aos grandes, com vista à expansão da produção e do posicionamento da indústria e da marca Brasil no mundo”.
A diversidade de olhares durante a ocasião trouxe uma riqueza de insights e proposições. Os líderes sindicais presentes, provenientes de polos tão distintos como o Norte, o Nordeste, o Sul e o Sudeste, compartilharam experiências, desafios e sugestões para tornar o setor ainda mais dinâmico. De micro e pequenas empresas que ainda lutam para conquistar mercado local a grandes indústrias que competem no mercado internacional, a força da representatividade foi o tom predominante.
O mobiliário como artigo de desejo
Em um país de estados com proporções, costumes e necessidades tão amplas como o Brasil, os panoramas do setor de móveis e a percepção de consumo de cada região são questões desafiadoras para a indústria e o varejo.
Do Paraná, estado que recebeu o encontro, José Lopes Aquino, presidente do SIMA (Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas-PR), pontuou que, “para enfrentarmos os grandes desafios atuais, o setor moveleiro tem que se unir”. Ele diz: “Identificar ‘dores comuns’ e buscar solução conjunta pode ser o caminho. A tecnologia e a inovação devem ser as grandes aliadas para potencializar o que já fazemos bem e gerar novas oportunidades para as indústrias associadas e nossos polos regionais como um todo.”
Aquino também fala da importância de “mudar a percepção do consumidor, que hoje busca apenas suprir uma necessidade imediata”, segundo ele. “Nosso objetivo deve ser que a decisão de compra seja motivada pelo desejo, ou seja, precisamos levar aos lares não apenas móveis, mas também qualidade de vida”, explica.
Maurício Lassmann, presidente do MOVEBA (Sindicato da Indústria do Mobiliário do Estado da Bahia), assumiu a liderança do sindicato recentemente e já enfrenta o desafio de criar estratégias para aumentar a visibilidade dos móveis baianos no próprio estado e na região Nordeste. “O país conta com 5570 municípios compostos de diferentes necessidades e particularidades, e temos uma grande missão, que é não só inserir o mobiliário produzido localmente no mercado regional como também atender a essa diversidade. Para isso, é fundamental conhecer a realidade de outros polos e empresas, e assim criar redes que nos ajudem a entender melhor como superar as barreiras e avançar de dentro para fora”, afirma.
O Nordeste, um mercado em plena expansão no setor moveleiro, foi representado também por João Paulo Ferreira Rosa da Silva, membro da direção da AMAP-PB (Associação dos Fabricantes de Móveis e Artefatos de Madeira da Paraíba). Para ele, uma das principais estratégias para avançar, tanto no mercado da região quanto no restante do Brasil e em outros países, está na valorização da autenticidade do design, das técnicas e das matérias-primas locais como diferencial competitivo.
“Percebemos por meio de ações desenvolvidas setorialmente, como as rodadas de negócios, que existe um mercado grande a ser explorado, que demanda produtos de qualidade, com design que traduz originalidade e brasilidade. Precisamos estar cada vez mais qualificados e atentos para essas demandas, elevando a desejabilidade dos nossos móveis”, pontua Silva.
Tecnologia, inovação, design e brasilidade como diferenciais competitivos
Com vista a criar um ambiente propício para agregar ainda mais valor aos produtos nacionais, alguns pontos destacaram-se entre os líderes presentes no encontro: a busca por incentivos e a importância de modernizar o parque industrial, capacitar mão de obra e situar a sustentabilidade como diferencial competitivo.
Enrico Stoeberl Fagundes, presidente recém-empossado do SINDICOM (Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de Rio Negrinho-SC), pontua: “É a primeira vez que participo de uma reunião com a ABIMÓVEL e saí surpreso com a riqueza de detalhes e esse intercâmbio realizado entre os polos do país. O debate contribuiu muito para a troca de ideias e com certeza trará bons resultados para o setor. Percebemos que o mercado tem espaço para um crescimento ascendente; entretanto, precisamos focar na capacitação de mão de obra e no aprimoramento tecnológico em relação aos concorrentes externos”.
Mauro Pereira Schwartsburd, presidente do SIMOV (Sindicato da Indústria do Mobiliário e Marcenaria do Estado do Paraná), concorda: “A indústria moveleira brasileira ainda tem um enorme potencial de expansão tanto no mercado interno quanto global. Nosso maior desafio é a falta de mão de obra qualificada e a necessidade de incentivos para investir em tecnologia para modernizar as fábricas. Além disso, enfrentamos problemas de infraestrutura, como estradas e portos ineficientes, e o alto Custo Brasil, principalmente em relação aos impostos, que representam uma grande parcela dos custos na indústria. Esses são obstáculos significativos que precisamos superar para aproveitar as oportunidades de crescimento”.
Desafios e oportunidades no mercado brasileiro
Luiz Carlos Pimentel, do Sindusmobil (Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul-SC), levantou outro ponto crucial: “O que mais vemos é a busca por aumento de impostos e excesso de burocracia. Somos um dos maiores geradores de postos de trabalho do país. Precisamos ter nossas necessidades atendidas”. Para tal, ele enfatiza que “é essencial que, através dos próprios Sindicatos, Federações e da ABIMÓVEL, o setor seja ouvido”.
Pontos que vêm sendo temas de defesa da ABIMÓVEL junto ao Governo Federal, por meio de sua participação no CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial) e no FNI (Fórum Nacional da Indústria), enfatizando a necessidade da se encontrar soluções para o alto Custo Brasil, a inclusão do setor no projeto de desoneração da folha de pagamento, assim como em programas de financiamento imobiliário, como o “Minha Casa, Minha Vida”, entre outras questões.
“A indústria moveleira brasileira enfrenta desafios, mas também existem diversas oportunidades, como a expansão do mercado interno, o crescimento do e-commerce, a valorização de produtos personalizados e o aumento de programas de incentivo à sustentabilidade no setor. Nesse sentido, precisamos fortalecer a parceria entre empresas, governo e instituições de ensino e pesquisa para garantir a competitividade e atender também a essas novas exigências do mercado”, fala Patrícia Guimarães, presidente do SIMM (Sindicato da Indústria do Mobiliário de Mirassol-SP).
Além de alternativas para a melhoria do ambiente de negócios, ela ainda ressalta a importância de uma gestão focada na inovação, no design, tecnologia e práticas ambientalmente adequadas: “A implementação de práticas ESG, por exemplo, como o proposto pelo tema debatido no Congresso deste ano, pode gerar diversos benefícios para as empresas, como redução de custos, melhoria da imagem institucional e maior competitividade no mercado global”.
O presidente da MOVERGS (Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul), Euclides Longhi, reforça também a necessidade de se adequar os produtos brasileiros às normas internacionais: “Entre os principais desafios vejo a atualização das certificações da ABNT no que se refere à regulamentação dos móveis brasileiros. Consequentemente adequando nosso mobiliário tanto para o mercado local, que ganha em qualidade, durabilidade e segurança, quanto para a exportação, estando em sinergia com exigências internacionais. A ABIMÓVEL já está trabalhando nessa pauta e a MOVERGS se mantém à disposição para contribuir”.
Ele enfatiza que o desafio atual é, portanto, o de estar aberto para reagir o mais rápido ao que vier pela frente, reconhecendo as oportunidades. “Ou seja, cada vez mais precisamos de agilidade – inclusive para alterar planejamentos estratégicos de longo prazo”, salienta.
Complementando este pensamento, Rosana Souza Aguiar, presidente do SINDIMAM/DF (Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário do Distrito Federal), reforça que “as empresas precisam se adaptar rapidamente às novas tecnologias, como e-commerce e Inteligência Artificial, para atender às demandas atuais”, pontuando que, em contrapartida, muitas também são as oportunidades com o aumento da procura por móveis de alta qualidade e design diferenciado, o que o Brasil tem muito a oferecer.
“A união de forças por meio de iniciativas como o Congresso Nacional Moveleiro é vital para o fortalecimento da indústria de móveis em todo o Brasil. Isso nos permite alinhar as demandas locais às políticas nacionais, ajudando a fortalecer a posição do nosso polo no mercado e promovendo o desenvolvimento conjunto do setor no país”, complementa.
Guilherme Brito, do SINDMÓVEIS-PE (Sindicato das Indústrias de Móveis do Estado de Pernambuco), também salienta: “O associativismo mostra que, juntas, as indústrias têm mais poder em realizar ações para o desenvolvimento do setor. Os resultados demonstrados na reunião justificam o quão importante as iniciativas da ABIMÓVEL e dos sindicatos têm sido para o segmento, incentivando, como fazemos no nosso Sindmóveis-PE, a inovação, o design, a capacitação e o diálogo em nosso setor”.
Voz ativa para a transformação!
O posicionamento dos representantes dos polos moveleiros nacionais deixa claro que o futuro da indústria de móveis brasileira depende de um esforço conjunto para superar desafios estruturais e aproveitar as oportunidades de um mercado em transformação. Reforçando que a força do setor está não só na riqueza e diversidade do nosso país, mas também na capacidade de integração e cooperação entre as diferentes regiões em prol de uma indústria mais forte e globalizada.