A Revista Móbile ouviu os presidentes dos Sindicatos que compõem os polos moveleiros. Irineu Munhoz, presidente do SIMA de Arapongas, Vinícius Benini, presidente do Sindmóveis de Bento Gonçalves, Rogério Francio, presidente da Movergs, do Estado do Rio Grande do Sul, Ademilse Guidini, presidente do Sindimol de Linhares e Áureo Barbosa, presidente do Intersind de Ubá e região.
Texto: Kika Fazollo
Imagem: Reprodução
Neste momento delicado da economia e da saúde brasileira os sindicatos se veem a frente de um grande desafio, não deixar que seus polos sejam vencidos pela insegurança e medo do caos da economia.
Alguns desses polos já retomaram a suas atividades industriais, mas sabemos que existe uma lacuna que é a da retomada da economia através da volta do funcionamento do comércio, que ainda não aconteceu devido ao isolamento social que a população vive neste momento em todo país.
Essa entrevista tem como objetivo dar voz às entidades para que possamos entender como cada região está passando por este momento e quais as previsões para um futuro um tanto incerto.
Começamos com o presidente do SIMA, Irineu Munhoz que disse que se olharmos pelo lado da pandemia, Arapongas/PR vive uma situação tranquila, segundo o presidente. “Temos problemas sérios em algumas capitais (São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza) e o Sistema de Saúde está com ocupação mínima na grande maioria dos municípios.”
Na opinião de Irineu, pelo lado da economia, o nosso setor (moveleiro) vive um momento muito preocupante, pois, o fechamento precoce do comércio prejudicou toda a cadeia, desde o produtor de madeira até o montador de móveis.
Em Bento Gonçalves/RS, o presidente do Sindmóveis, Vinícius Benini, avalia essa situação como inusitada e diz que jamais imaginaria viver esse momento. Para Vinícius, as indústrias estão tendo que se reinventar mais uma vez, achar alternativas e principalmente sobreviver nesse momento para continuar a seguir. Com o comércio fechado e sem saber quando vai voltar, ele acredita que o único caminho é a união de forças, “O Sindmóveis está tentando achar várias ferramentas e alternativas para que os nossos associados trabalharem home office, estamos passando isso para eles, através de informações e novas ferramentas de trabalho. As indústrias de Bento Gonçalves voltaram a operar e estão tomando todas as medidas que o situação exige,” declarou Vinícius.
Para Rogério Francio, presidente da Movergs, trata-se de uma situação muito difícil, de incertezas, e que ainda não podemos computar os impactos econômicos da indústria moveleira gaúcha, tanto no mercado interno quanto externo, visto que as exportações também estão sendo atingidas, em função do fechamento das fronteiras. “Grande parte das indústrias retornaram às atividades nesta semana, com quadro reduzido de colaboradores, tomando todos os cuidados necessários e exigidos pelo decreto estadual. Dessa forma, as indústrias estão reavaliando uma série de questões. O que podemos assegurar, no momento, é que as perdas já são uma realidade e afetarão os negócios”, afirma Rogério.
Ademilse Guidini, presidente do Sindimol, vê a situação como extremamente delicada. Diferente de outras crises, “Hoje, além do problema econômico, temos a questão da saúde pública. O maior desafio está em encontrar esse equilíbrio. Não é um problema apenas empresarial ou de algum setor específico. Atingiu todo o mundo. Temos ainda a questão do emprego. Estamos fazendo um esforço enorme e nos apegando a todo tipo de recurso ou benefício para evitar demissões. O ritmo de trabalho para minimizar os impactos tem sido intenso. Temos tido muito apoio dos governos e instituições, como a Federação das Indústrias, mas é muito difícil estabelecer estratégias diante de um cenário de tamanha incerteza”, pontua Ademilse.
Áureo Barbosa, presidente do Intersind de Ubá e região, diz estarmos diante de uma situação nunca imaginada antes. “Um verdadeiro clima de guerra, cujo inimigo ainda não conhecemos por completo. Teremos todos que aprender e projetar uma nova forma de vida, quer seja no convívio familiar e social, assim como no lado empresarial”.
O polo de Ubá retomou as atividades a pleno vapor, segundo Áureo, “Poder ver o sorriso estampado no rosto de nossos colaboradores, numa demonstração de alívio e certeza do poder honrar o sustento de suas famílias, nos deixa até emocionados”.
Quanto a retomada do mercado, os presidentes foram categóricos em dizer que ela acontecerá de forma gradativa e lenta.
Irineu acredita que, será uma retomada lenta, pois esse período de perdas gerais causado pela quarentena horizontal precoce trouxe muitas incertezas para os empresários e consumidores. Ele chama a atenção para uma possível mudança no comportamento do consumidor. “Esse período de restrições e confinamento que estamos passando, provocou mudanças importantes em nossos relacionamentos, algumas positivas outras nem tanto, essa mudança comportamental deverá influenciar em nossos usos e costumes, portanto, haverá alterações importantes em nossa maneira de comprar e consumir, na realidade, creio que estaremos antecipando avanços que viriam com um tempo maior se não houvesse essa pandemia. Acredito que se cada um fizer sua parte, tomando os devidos cuidados de higiene e autoproteção, passaremos por essa pandemia com bem menor quantidade de mortos que até os otimistas previam. Infelizmente, sabemos que muitos irão sucumbir, podendo até ser um de nós ou dos nossos e isso é doloroso, nós nunca queremos, mas sabemos que como humanos somos falíveis. Como diz na Bíblia em Eclesiastes 3, 2 ‘Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou’”.
Irineu terminou sua entrevista, dizendo: “Agora é tempo de reiniciar o plantio, com novas ideias e com muita ação. Deus nos proteja”.
Para Vinícius, a retomada vai acontecer e será gradativa. “Acredito que o mês de abril e começo de maio serão bem decisivos até no sentido de entendermos como vai se comportar essa pandemia. Sem dúvidas, vamos voltar gradativamente, como já está acontecendo. Dependemos muito do comércio, as empresas que atuam com e-commerce e que trabalham com alguns países que estão conseguindo exportar, conseguem suprir essa demanda reprimida. Estamos voltando aos poucos e com toda segurança necessária para nossos colaboradores e acredito que logo mais poderemos colher estes frutos”.
Vinícius ressaltou a mudança no comportamento das pessoas, essa reinvenção do e-commerce vai mudar muito a forma de consumir e as empresas precisarão acompanhar essa mudança.
Para Rogério, a retomada será lenta e difícil e, sem dúvida, não será como antes. Cada empresa terá que novamente fazer o dever de casa, como já havia sido feito nos últimos anos, ou seja, reavaliar vendas, gastos, custos etc. “É claro que nenhuma empresa gosta de demitir, mas cada empresário precisará olhar para dentro do seu negócio e replanejar o ano de 2020 dentro das possibilidades. Precisamos da união de forças. Cada um de nós precisa fazer a sua parte, tanto iniciativa privada quanto governo, focando em salvar vidas, mas também salvar a economia”, declara Rogério.
Ademilse também acredita que a retomada será muito lenta. “Especialistas do mundo todo estão fazendo análises e não existe nenhum tipo de previsão que nos traga otimismo em um curto prazo. Temos uma população com medo, mesmo que o comércio de alguns estados voltem ao normal, ainda assim haverá receio de grande parte da população, que só se sentirá segura se houver o controle da pandemia, em primeiro lugar”.
Ele ainda coloca que as indústrias de Linhares/ES não estão impedidas de trabalhar, mesmo assim, muitas estão com as atividades suspensas ou em jornada reduzida de trabalho em função do momento. “Temos o comércio e diversas outras atividades paradas, por enquanto, sem previsão exata de retorno. As análises são feitas semanalmente pelos governos, que avaliam o cenário de evolução da doença para tomarem decisões. Estamos participando também destas análises, para que, todas as atividades retornem com a máxima segurança possível para a saúde de todos os cidadãos. Como disse anteriormente, o maior desafio é encontrar o equilíbrio entre a questão da economia e da saúde”.
Áureo diz que, a retomada do mercado como um todo, certamente será lenta no início e acrescentou, “Sabemos que temos uma demanda reprimida há vários anos, e se soubermos preservar o emprego e a renda, os consumidores voltarão às compras. Ameaças nos fazem reagir em busca de novas oportunidades. Quem souber aprender e fizer o dever de casa com cautela e inteligência estratégica, sairá muito mais forte dessa crise”, finaliza Áureo.
Fonte: Emobile