
O pessimismo do varejo brasileiro atingiu em outubro o pior nível desde a pandemia, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) caiu 10,3% entre julho e outubro, ficando em 95,7 pontos — abaixo do patamar neutro de 100 — e refletindo o impacto dos juros elevados, do crédito restrito e da desaceleração da economia. Para 43,6% dos empresários, a economia deve piorar nos próximos meses, o maior percentual desde 2020.
De acordo com o economista da CNC, João Marcelo Costa, o principal fator que explica o avanço do pessimismo é a taxa Selic, mantida no maior nível em quase duas décadas. “O empresário do comércio depende de capital de giro para contratar e investir, mas os juros altos tornam esse processo mais caro e difícil”, explica. A pesquisa mostra que a intenção de investimento recuou 4,2% em relação a outubro de 2024, atingindo 99,1 pontos, enquanto a expectativa de contratações caiu 6,3% no mesmo período.
O levantamento também revela queda nas intenções de expansão dos negócios, que recuaram 5,7% no comparativo anual, para 93,4 pontos. Apenas o item relacionado à formação de estoques apresentou leve alta, de 0,5% em um ano. Além dos juros elevados, o endividamento das famílias pesa sobre o consumo e, por consequência, sobre o desempenho do comércio: segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência da CNC (Peic), 30,5% das famílias tinham contas em atraso em setembro — o maior nível da série histórica.
A retração na confiança é generalizada, mas mais intensa entre varejistas de bens duráveis e setores dependentes de crédito, como eletrônicos, móveis, materiais de construção e veículos, onde o indicador caiu 14,5% frente ao mesmo mês de 2024. Também houve redução em supermercados, farmácias e lojas de vestuário e cosméticos. O cenário reforça o alerta da CNC sobre a perda de dinamismo da economia e a necessidade de condições financeiras mais favoráveis para estimular o consumo e os investimentos.








