Em artigo publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Ricardo Alban, fala sobre o cenário econômico mundial
As cadeias de produção estão mudando e transformando o comércio global. É um fenômeno complexo, determinado por tensões geopolíticas, transição energética e protecionismo econômico. No ano passado, pela primeira vez em duas décadas, os EUA compraram mais do México do que da China. E o Brasil?
A China enfrenta crescentes dificuldades nos EUA e na Europa, que aumentam tarifas dos produtos chineses e dão preferência à produção regional (“nearshoring”) e de países mais alinhados (“friendshoring”).
Esse contexto oferece grandes riscos ao Brasil e à indústria brasileira. Para compensar perdas nas exportações aos EUA e Europa, a China redireciona parte de seus produtos e capacidade produtiva a outros países, e o imenso mercado consumidor brasileiro é um grande alvo.
Mas não podemos ser apenas um mercado manso aos produtos manufaturados chineses, em detrimento das nossas indústrias de base e suas cadeias produtivas. Afinal, nenhuma grande nação deu salto de desenvolvimento sem a mola propulsora do setor produtivo.
Como podemos, então, transformar esse deslocamento da manufatura chinesa em oportunidades? Não é fácil, mas a resposta é simples: tendo a mesma competência que os chineses tiveram em transformar seu imenso mercado e sua força de trabalho em ímã para investimentos diretos na produção.
Os países precisam enxergar no comércio com o Brasil uma parceria ganha-ganha. E o Brasil deve se colocar como um aliado estratégico dos grandes “players” globais em vários níveis: político, econômico e ambiental. Precisamos ter a competência que muitos países já tiveram para aproveitar oportunidades em diferentes contextos da história, como Japão, Tigres Asiáticos, China, Índia e México.