Entrevista com Maristela Cusin Longhi: Presidente da ABIMÓVEL traz um panorama da indústria moveleira nacional nos primeiros meses de 2021

Indiscutivelmente um dos assuntos mais importantes para a indústria moveleira neste momento, quando a oferta de matérias-primas começou a se mostrar um problema em ascensão na cadeia madeira e móveis?

Maristela Cusin Longhi – O abatimento da economia nacional com a interrupção do comércio físico e o fechamento de fábricas no segundo e terceiro trimestre do ano passado, devido ao recrudescimento da pandemia de Covid-19 no País, culminou na disruptura dos processos produtivos e consequentemente da falta de produtos. Com a explosão surpreendente no consumo de móveis e colchões logo no início do segundo semestre (junho/julho) e as empresas com baixos estoques, tivemos um colapso na cadeia de suprimento, que não conseguiu dar conta da demanda crescente que se estabelecia. Deixando a indústria sem material suficiente para suprir a demanda, gerando problemas no varejo e atrasando as compras realizadas pelos consumidores. Todo este processo, o qual aconteceu mundialmente em todas as cadeias produtivas, provocou uma avalanche de aumentos de preços bastante elevados.

 

Quais são os insumos e matérias-primas que mais apresentaram escassez ou supervalorização no período?

Maristela – Entre as indústrias de móveis e colchões, os problemas mais significativos estão no fornecimento de ferragens, vidros, painéis de madeira, como MDF e MDP, papelão, plástico, bem como aço e espumas, entre outros itens essenciais para a produção. Dessa forma, muitas empresas precisaram reduzir o ritmo de atividade pela falta de matérias-primas.  

 

A direção da ABIMÓVEL vem participando de reuniões frequentes com o Ministério da Economia e demais entidades de classe também afetadas pelo problema de desabastecimento e alta de preços. Há sinalização de alguma medida a ser adotada?

Maristela – Como sempre destaco, é importante frisarmos que esta equação não é simples, pois depende de um equilíbrio entre oferta e procura, considerando, ainda, que este não é um problema exclusivo da cadeia produtiva de madeira e móveis. Ou seja, todas as  cadeias, indistintamente, estão ainda enfrentando problemas no abastecimento de matérias-primas e  insumos. Muitas medidas estão em pauta, com especial atenção àquelas que visam melhorar o ambiente de negócios e às reformas administrativas, como tributárias, fiscais, creditícias e de exportação, essenciais para o desenvolvimento e a melhoria da competitividade brasileira. Avançamos muito nas últimas semanas. Um exemplo é a Medida Provisória do Ambiente de Negócios (MPAN), anunciada pelo Governo Federal, que visa promover uma série de melhorias para o Brasil. Outras 26 medidas para atenuar a crise também já estão sendo realizadas ou em análise para reedição. E, claro, estes são apenas alguns passos, pois continuamos trabalhando permanentemente com o Governo e o Congresso Nacional, por meio da nossa Frente Parlamentar.

 

A implementação de medidas, mesmo em caráter de urgência, passa por burocracias e outras questões muitas vezes de difícil controle. Há algo que possa ser feito de imediato para atenuar o problema?

Maristela – No atual momento, em que ainda enfrentamos escassez de matérias-primas e preços por vezes inviáveis no mercado nacional, a importação se faz necessária. Acreditamos, porém, que olhar cada vez mais para a indústria nacional, buscando alternativas de fornecimento no mercado doméstico, seja um caminho essencial para fortalecer as empresas brasileiras. Pensando em formas de criar oportunidades de negócios e conectar os diferentes elos da cadeia produtiva no Brasil, portanto, a ABIMÓVEL idealizou e realizou neste mês a edição piloto do Projeto Fornecedor. A ação ocorreu entre os dias 06 e 07 de abril em conjunto com a Abit, Assintecal e o CICB, reunindo cerca de 40 empresas, entre compradores e fornecedores nacionais. O evento foi desenvolvido em uma plataforma digital, permitindo reuniões remotas de maneira ágil e segura, com todo o aporte profissional das entidades. Ao todo, foram realizadas uma média de 210 rodadas de negócios durante os três dias de evento, culminando em grande satisfação por parte dos participantes e mais de R$ 4 milhões em negócios prospectados já nos próximos seis meses. Com a boa repercussão, já trabalhamos no planejamento da próxima edição, ainda maior e envolvendo outros segmentos também importantes da cadeia do mobiliário. 

 

E qual tem sido o impacto da baixa oferta de matérias-primas no chão de fábrica?

Maristela – Acreditamos que a melhor forma de se entender isso é falando-se do impacto real no dia a dia das fábricas moveleiras. Mesmo vivendo um momento de alta demanda no mercado interno e externo por móveis e colchões, as empresas hoje não conseguem atender totalmente às solicitações dos seus clientes, tendo muitas vezes que cancelar pedidos ou atrasar a entrega deles. Em muitos casos, empresas tiveram que enxugar suas estruturas e diminuir equipe pela restrição de vendas imposta pela falta dos insumos.

 

Apesar da situação do abastecimento, segundo o Caged, a indústria moveleira foi uma das que registrou um dos maiores saldos positivos de vagas de trabalho nos meses de janeiro e fevereiro de 2021. Uma informação bastante importante. Como podemos justificar esse cenário?

Maristela – A demanda explosiva no segundo semestre do ano passado propiciou um forte movimento de recontratações e novas contratações no período, que reverteu em parte a intensa retração causada pelos primeiros meses da pandemia no Brasil. A falta de insumos para fabricação de móveis, no entanto, continua afetando o ritmo da produção no setor, apesar da alta demanda tanto no mercado interno como para as exportações. Aliás, esse superaquecimento na procura por móveis combinada a resiliência de nossa indústria é, de fato, fator determinante para a manutenção e evolução do emprego no setor, que contratou mais pessoas neste período, do que demitiu. Com a venda acelerada no primeiro trimestre, o volume do emprego na indústria moveleira manteve-se estável em janeiro de 2021, com +0,4% no comparativo com dezembro de 2020 e +0,1% no acumulado do ano em relação ao mesmo período do ano passado. O número de horas trabalhadas também apresentou crescimento, +0,6% em relação ao mês anterior e +7,6% no acumulado do ano.                

 

Para finalizar, qual o seu conselho para os moveleiros neste momento?

Maristela – Que continuem acreditando e, sobretudo, trabalhando, buscando alternativas para superarmos mais este desafio. O cenário é de muito trabalho, da busca por novas oportunidades, do mercado digital, da adoção de protocolos de segurança e de novas práticas em todos os níveis. Muitas indústrias e organizações, infelizmente, estão passando por sérias dificuldades, quer no Brasil, quer no mundo. No caso da indústria de móveis, no entanto, estamos demonstrando muita resiliência e assertividade, logo, devemos concentrar nossos esforços na estratégia e na gestão de nossas empresas, no plano de negócios, na gestão das equipes, no olhar atento a cada nicho de mercado, processos de produção, demandas do nosso consumidor e nas diversas formas de atuação do varejo, e-commerce e canais de distribuição. Teremos de ser cada vez mais pragmáticos, focados e atentos ao novo cliente. A ABIMÓVEL continuará atuando de forma consistente e focada na defesa e no fortalecimento de toda a nossa cadeia produtiva de madeira e móveis.      

 

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